O DESAFIO DA QUALIDADE DE ENSINO BÁSICO NAS ESCOLAS PÚBLICAS EM MOÇAMBIQUE
O DESAFIO DA
QUALIDADE DE ENSINO BÁSICO NAS ESCOLAS PÚBLICAS EM MOÇAMBIQUE
Henriques
Domingos Damião Mucuna
henriquedamiaocuna@gmail.com
Júlia
Alfredo Adriano Rapce
jg.juliagracinda@gmail.com
Resumo
A formação
do carácter do indivíduo tem como base a educação, razão pela qual estes
indivíduos precisam de uma educação com princípios. Porém, esta deve moldar a
qualidade do processo de ensino e aprendizagem, influenciando o desenvolvimento
da sociedade. Portanto, a educação desde a sua implementação em Moçambique até
nos dias actuais sofreu várias alterações, mesmo assim a problemática da
qualidade de ensino e aprendizagem logo após a independência em Moçambique,
parecia ter resultados aplausíveis na qualidade. Com o passar do tempo, o nível
da qualidade de ensino e aprendizagem concretamente no ensino básico baixou
consideravelmente. O trabalho tem como objectivo compreender os factores que
determinam a qualidade de ensino através dos critérios propostos no Sistema
Nacional da Educação (SNE) em Moçambique. A metodologia usada para a realização
do trabalho foi a pesquisa bibliográfica dos autores que referem a qualidade da
educação em Moçambique. Contudo, a qualidade de ensino e aprendizagem vai
depender da capacitação e a motivação dos responsáveis da educação,
apetrechamento das escolas, meios de ensino usados consoante o tempo e espaço.
Palavras-chave: Moçambique, Qualidade de
Ensino e Ensino Básico.
Abstract
The
formation of the character of the individual is based on education, which is
why these individuals need a principled education. However, it should shape the
quality of the teaching and learning process, influencing the development of
society. Therefore, education from its implementation in Mozambique to the
present day has undergone several changes, yet the quality of teaching and
learning issues soon after independence in Mozambique seemed to have plausible
results in quality. Over time, the level of quality of teaching and learning in
primary education has dropped considerably. This paper aims to understand the
factors that determine the quality of education through the criteria proposed
in the National Education System (SNE) in Mozambique. The methodology used to
carry out the work was the bibliographical research of the authors who refer to
the quality of education in Mozambique. However, the quality of teaching and
learning will depend on the training and motivation of those responsible for
education, school equipment, and means of education used according to time and
space.
Keywords: Mozambique, Education Quality and Basic Education.
Introdução
A educação é a base do desenvolvimento de qualquer
sociedade, com este princípio, em Moçambique o governo tem mantido esforço
maior para combater o analfabetismo, expandindo o ensino obrigatório para as
zonas recônditas do país, diminuindo a distância percorrida pela comunidade
para a obtenção da aprendizagem.
A elaboração do artigo tem como objectivo demostrar as dificuldades
que os alunos em conjuntos com os professores enfrentam no processo de ensino e
aprendizagem. Porém, nas escolas públicas, em particular no ensino básico em
Moçambique, depara-se com alguns factores determinantes da qualidade de ensino,
que por várias razões retardam o aprendizado, levando assim, a baixa qualidade
de ensino.
Os pais e encarregados de educação na actualidade,
reflectindo sobre a qualidade de ensino, têm-se questionado porque é que os
seus filhos após terminarem um nível de escolaridade, eles não são capazes de
realizar actividades que dizem respeito ao ciclo terminado?
Eles Julgam uma parte da educação, se esquecendo que o ensino
é realizado por um sistema educativo, passando de um processo que necessita de
vários factores para a eficiência do aprendizado. A pesquisa justifica-se pelo
fraco aproveitamento pedagógico dos alunos do ensino básico em escolas públicas,
mostrando alguns factores que determinam a eficiência e eficácia do ensino. O
artigo é constituído por: conceito de qualidade de ensino, o Sistema Nacional
de Educação (SNE) e factores determinantes da qualidade de ensino.
Conceito de
qualidade de ensino
Segundo Demo
(1995, p.11 e 19), “a qualidade é a dimensão da intensidade, tem a ver com a
profundidade, perfeição, principalmente com a participação e a criação, está
mais para ser do que para o ter”, o autor acrescenta que “a qualidade é assim,
a questão da competência humana, implica consciência crítica e capacidade de
acção (saber e mudar) ”.
Para Gadotti
(2013cit. em Gonçalo & vargas, 2015, P.67), sob a óptica das Nações Unidas,
a qualidade é percebida como a “categoria central do novo paradigma da educação
sustentável e deve ser acompanhada da quantidade”. A qualidade e a quantidade
são duas pontas da mesma corda, a quantidade é uma ponte para a obtenção da
qualidade. Sendo assim, a qualidade promove no ser um novo olhar sobre o mundo,
a satisfação das necessidades existentes na sociedade.
Ensino é um
processo que se caracteriza pelo desenvolvimento e transformação progressiva
das capacidades intelectuais dos alunos em direcção ao domínio dos conhecimentos
e habilidades, e a sua aplicação. Para Libânio (2013), “o ensino tem função
principal assegurar o processo de transmissão e assimilação dos conteúdos do
saber escolar e através desse processo desenvolver as capacidades cognoscitivas
dos alunos” (p.84-85). Pilete (2006, p.30), acrescenta que “segundo a concepção
tecnicista, o ensino se inspira nos princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade”.
Para tal, a
qualidade de ensino tem várias denominações, dependendo dos instrumentos a
serem usados e as finalidades a serem alcançados. Segundo Ali (2017), a
qualidade de ensino está associado a questões de eficácia e eficiência, baseado
no alargamento da educação a um número maior das crianças, ao número da taxa de
sucesso, adequação do E-A no currículo, a formação dos professores e por fim
apetrechamento das escolas. Bonde (2016), Sustenta que “a qualidade de ensino
pressupõe um julgamento de mérito que se atribui tanto ao processo quanto aos
produtos decorrentes das acções desenvolvidas, o que, de certa maneira, implica
um juízo de valor” (p.31).
O Sistema Nacional de Educação (SNE)
Segundo AfriMAP (2012), o Sistema Nacional de
Educação (SNE), foi implemento em Moçambique em 1983 na altura em que o país se
encontrava no estado da Guerra Cível dos (16 anos) entre as formações políticas
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e Resistência Nacional de
Moçambique (RENAMO). No fim deste conflito, houve mudanças na educação, razão
pela qual o sistema foi revisto e reformulado em 1992, sendo este sistema em
uso até nos dias actuais.
Segundo
Macamo (2015), a lei 06/1992 do SNE tem como objectivos:
a) Erradicar o analfabetismo de modo a
proporcionar a todo o povo o acesso ao conhecimento científico e
desenvolvimento pleno das suas capacidades; b) Garantir o acesso básico a todos
cidadãos de acordo com o desenvolvimento do país, da introdução progressiva da
escolaridade obrigatória; c) Assegurar a todos moçambicanos o acesso a formação
profissional; d) Formar o professor como educador e profissional consciente,
com profunda preparação científica e pedagógica, capaz de educar os jovens e
adultos; e) Formar cientistas e especialistas devidamente qualificados que
permitam o desenvolvimento da produção e da investigação científica; f)
Desenvolver a sensibilidade estética e capacidade artística das crianças,
jovens e adultos, educando-os no amor pelas artes” (p.18).
Para o autor,
o SNE estrutura-se da seguinte forma: 1) Ensino pré-escolar, realizado em
creches e jardins-de-infância para crianças com idade inferior a seis anos; 2)
Ensino Escolar, subdividido em (ensino geral, ensino técnico- profissional) e
por fim o ensino superior. Acrescentam Intanquê
& Subuhana (2018, p.8):
O subsistema
da educação geral foi estruturado em Ensino Primário (EP) que tem duração de
sete classes, ou com a duração mínima de sete anos, cinco anos para 1º grau
(EP1) e dois anos para 2º grau (EP2), e Ensino Secundário Geral (ESG) com a
duração de cinco anos e com subdivisão de dois períodos, o primeiro período que
vai da 8ª à 10ª classe (ESG1), o segundo período que vai da 11ª à 12ª classe
(ESG2).
O ensino básico constitui uma base do SNE, visto que é
responsável na formação de alunos nas áreas da língua, da matemática, das
ciências naturais e sociais, da educação física, estética e cultural,
preparando o aluno para a vida de socialização e o ingresso nos outros níveis
de ensino subsequentes, em especial no ensino secundário (Luluva, 2016). Salientar
que, são ingressados ao ensino básico, as crianças que tiverem uma idade mínima
de 6 anos já completados ou que vão completar no final do ano. Por seu turno,
são realizados exames no final do 2º ciclo e no 3º ciclo, isso é, 5ª e 7ª
classe respectivamente, havendo dispensas para os aluno que tiverem uma nota
igual ou superior a (14 valores).
Factores determinantes da qualidade de ensino
Falar de
factores da terminação da qualidade é referir-se dos condicionamentos ou
aspectos relevantes da escola que favorecem a sua qualidade.
Segundo Díaz
(2003, 13), os factores que determinam a qualidade de ensino no sistema
educativo, “constituem elementos fundamentais que incidem na organização e
funcionamento das escolas”. Como escreve Ali (2017), uma educação de qualidade tem
como “característica a disposição de condições físicas, materiais e financeiros
de funcionamento, condições de trabalho, remuneração digna e formação contínua
dos professores” (p.14). Portanto, estes constituem elementos chave para o alcance
dos objectivos traçados no currículo, ausência destes factores nos remeterá a
educação de baixa qualidade.
As
condições das infra-estruturas
Segundo Carron & Châu (2006), “a imagem projectada
pela escola também depende da qualidade da sua infra-estrutura ou da qualidade
da sua atractividade física”. Ou seja, a boa qualidade depende da
infra-estrutura da escola, quanto mais for atraente maior será a entrada dos clientes
(alunos). Como é sabido, chama mais atenção as coisas com muita vivacidade,
portanto, as escolas devem ter uma boa aparência e com as melhores condições
possíveis para criar um bom ambiente escolar, promovendo assim a sua eficiência
no seu funcionamento curricular. Em Moçambique nem todas as escolas apresentam
estas características, nos remetendo a questões precárias. Para estes autores
acrescenta que existem escolas sem instalações e escolas num estado avançado de
degradação.
Segundo MINED (2014), as escolas devem ter no mínimo
salas que devem adequar com o PEA, ou seja, as escolas devem estar equipadas
com recursos mínimos e necessários tais como: quadro preto, giz, apagador,
livros de apoio, carteiras para alunos e secretária para os professores. Importa
salientar que, nem todas as escolas reúnem todas essas condições, portanto,
existindo escolas que nem tem salas de aulas suficientes, recorrendo-se as
sombras das árvores.
No entanto, nem mesmo as escolas que têm as salas com
condições mínimas chegam para todos alunos, pois, o número dos alunos aumenta
cada vez mais, criando um enchente na sala de aula. Como acrescentam Bonde
(2016), “o aumento dos ingressos dos alunos em vários níveis se reflecte num
excesso de alunos nas salas de aula, em cerca de 50 a 70 alunos, o que
dificulta o processo de ensino e aprendizagem no sistema” (p.69). Com este
enchente dificulta o professor na circulação na sala de aula, o professor
dificilmente conhecerá os seus alunos, e não conhecendo os alunos lhe será
difícil identificar as dificuldades dos mesmos.
Para o autor, as escolas com maior índice dos alunos na
sala de aula, influencia negativamente na qualidade do ensino e aprendizagem,
por que no dia da realização dos testes os alunos passam respostas para os
outros, tornando um plágio dos testes, visto que as carteiras são compostas de
3 alunos. Nas aulas normais criam um ruído na aula perturbando os outros e
provavelmente tendo um baixo aproveitamento pedagógico.
No que diz respeito ao saneamento, MINED (2014), as
escolas devem possuir um ambiente limpo e confortável, que previna as doenças,
os estabelecimentos devem possuir casa de banhos com condições mínimas
exigidas. Referentes as questões do líquido precioso, o denominado água
potável, as escolas devem possuir repositórios de água para responder as
necessidades primárias dos alunos (sede). Para Carron & Châu (2006), “o
facto de a construção ser sólida não significa que as instalações sanitárias
estejam nas melhores condições, tudo depende da data de construção e da
manutenção” (p.71). Para tal, as instalações sanitárias devem ser feitas as
devidas manutenções, no caso das casas de banhos não serem feitas as devidas
manutenções (limpeza), vai criar cheiros que vai desagradar o ambiente e
perturbar o PEA. A maioria das escolas que têm essas condições encontram-se
localizados nas zonas urbanas, e nas zonas rurais continuam usando casa de banhos
feitos com materiais precários e com mínimas condições de higiene, aumentando
assim o índice da baixa qualidade do ensino e aprendizagem.
Formação
de professores
O professor é
único profissional na educação capaz de formar e deformar o aluno, uma vez que
ele é responsável na formação dos novos cidadão para a sociedade, sendo assim
precisa muita dedicação e muito cuidado na formação deste profissional. Como sustentam
Gonçalo e Vargas (2015), o professor é a ponte entre a escola e a sociedade, a
falta do preparo do professor nos remeterá o insucesso escolar.
“A falta de
preparo dos professores é apontada em vários documentos como uma das causas que
mais contribui para o insucesso escolar dos alunos” (Michels, 2006, cit. em
Gonçalo & Vargas 2015). Na mesma ideia está Nóvoa (1995, cit. em Gonçalo &
Vargas 2015), “não existirá ensino de qualidade, reforma educativa e inovação
pedagógica, sem antes melhorar a formação de professores”. Portanto, o governo
moçambicano deve investir de uma forma racional na formação inicial dos
professores, havendo a transparência na selecção dos candidatos.
Segundo AfriMAP (2012,96) “Sem professores
devidamente qualificados, conscientes, criativos e motivados, dificilmente se poderá atingir as
metas estabelecidas nas políticas governamentais, as quais visam materializar o direito humano à
educação”. Gonçalo &Vargas (2015, p.68), sustenta que, “tanto os
professores como os gestores escolares devem receber uma formação, apoio
institucional e um acompanhamento adequado para construir novas competências
que serão pertinentes nos ciclos de aprendizagem”, por seu turno as grandes
mudanças na formação de professores devem existir a partir da selecção de
formadores.
Como está
sustentado no AfriMAP (2012, p.96), “a
grande mudança deveria estar na escolha dos formadores dos Institutos de
Formação de Professores (IFPs) que, no caso do ensino primário, devem possuir
como condição necessária terem passado antes pela experiência de ensino
primário nas escolas”. Mas em algum momento os formadores são alocados nos
institutos de formação de professores sem antes passar pela experiencia do
ensino básico, ou porque está formado pela universidade já é apto para formar
professores. A realidade das dificuldades está vista na prática com os próprios
alunos. Envolvendo formadores sem experiência, nos remete em situações de
corrupção nas IFPs, até que, é possível notar a passagem semiautomáticas nos
IFPs, coisas que para esse nível de formação não deveria acontecer, olhando na
complexibilidade das tarefas a serem executadas pelos professores e dos
objectivos propostos pelo ensino básico.
AfriMAP (2012, p.98), mensura que, as (IFPs e IMAPs), são “vocacionados para a formação de professores do
ensino básico”. Portanto, são aceites nas IFPs os candidatos com a 10ª e 12ª
classe já concluídas. Instituições de Formação de Professores aceitam os
candidatos que tiverem na 10ª classe com uma nota mínima ou superior a (12
valores), e estas oferecem mais 1 ano de formação profissional como básicos e,
os candidatos com a 12ª classe não tem especificidade da nota final, como
condição para ingressarem nos cursos de formação dos professores cabendo apenas
finalizar o ensino e, as IFPs oferecem mais 2 anos de formação para professores
médios.
O Ex. Ministro
da educação Zeferino Martins (2010-2014), descordou com as novas políticas de
formação de professor com a duração de 1 ano, pois para ele o governo deveria
empenhar mais esforços e mais tempo na formação dos professores, e que a curta
duração de formação dos professores não responde as necessidades da qualidade
de educação.
Portanto, fica
uma questão, como será formado um professor para o ensino básico (da 1ª à 7ª
classe) com 10ª+1 ano? Respondendo a esta questão importa ressaltar que o
governo apenas forma profissionais de uma forma quantitativa e não qualitativa,
porque a formação exigem a qualificação das realidades a serem encaradas no
campo de trabalho, visto que este candidato a professores com a 10ª classe
apresenta dificuldade das matérias da classe terminada.
Fevereiro
2010, o Ministério publicou um despacho, no qual afirma que a melhoria da
qualidade da educação depende em grande medida da duração e da qualidade da
formação de professores, determinando que fosse concebido um novo modelo de
formação de professores para o ensino primário. Segundo Demo (1995), “ havendo
professores adequados, será mais fácil introduzir outras inovações que levem a
educação de qualidade” (p.86). Se a educação tiver professores qualificados,
vai promover nos alunos a capacidade de investigação e não meramente como sujeitos
passivos do conhecimento do professor.
Acrescentam
Carron & Châu (2006), “a qualidade da educação depende da qualidade dos
professores, isto é particularmente verdade na educação primária onde as
crianças ainda não estão num estado de aprendizagem independente” (p.87). Para
Garcia (1995, cit. em Gonçalo & Vargas 2015, p.68), a formação dos
professores “deve ser entendida como um processo contínuo, começando com a formação inicial e
se estendendo ao longo da vida profissional, como base essencial para a
promoção de mudança educativa visando a eficácia e qualidade de ensino
aprendizagem”. Os professores devem ser beneficiados pelas formações das ZIP
para educação das novas disciplinas.
A
motivação dos professores
Ser professor é uma tarefa que
exige de várias condições para a realização das actividades, quanto mais as
condições de trabalho forem melhores, melhor será o desempenho do professor no
PEA. O professor deve ser motivado pelos órgãos da administração e pelos órgãos
pedagógicos. Como sustenta MINED
(1999), “a baixa motivação dos professores conduz ao absentismo e ao fraco
desempenho o que, por sua vez, reduz o tempo de contacto efectivo entre o
professor e os alunos, enfraquecendo assim, o processo de ensino-aprendizagem”
(p.25).
Em Moçambique há fraca contratação de professor do N1
para o ensino básico, privilegiando a contratação de professores formados pelas
IFPs. Mas nem todos formados pelas IFPs são afectados no mesmo ano, passando
pelo processo gradual. Mesmo para os contratados, o governo não disponibiliza
salários satisfatórios para atender as condições de vida actuais. Como reforça AfriMAP (2012), “Constrangimentos
financeiros e estruturais têm frustrado os esforços de colocar nas escolas um
número suficiente de professores formados e de funcionários qualificados”
(p.97). Havendo uma fraca motivação dos professores tem como consequência
redução da qualidade de ensino nas escolas. Para MINED (1999), os salários
devem ser revistos de acordo com a evolução económica do país, para atender as
necessidades em vigor dos professores.
AfriMAP (2012), acrescenta que, para além do baixo salário
recebido pelos professores, ainda os mesmos muitas vezes carecem de salários em
atraso, “sobretudo dos novos professores, o que os leva a abandonar os seus
lugares e a dar prioridade a outras actividades que não é o ensino” (p.97). Se
for a reparar em grande parte das escolas das zonas rurais até urbanas, no meio
do mês os professores não estão nas escolas, passando assim, as crianças
sentadas em casa porque o professor está na cidade ou não esta na escola, quer dizer,
que só há aulas quando há salário. Quando termina o salário que nem dura 3
semanas o professor abandona o posto de trabalho atendendo outras actividades
extras. O ensino básico sendo a base do SNE o governo deveria prestar mais
atenção neste nível, melhorando os salários dos envolvidos, pois o fracasso e
falhas na formação do aluno neste nível influenciarão nos outros níveis
subsequente.
A passagem semiautomática ou
progressão normal
A passagem semiautomática é apontada como um factor que
desestimula o esforço do aluno. O sistema de educação concebeu em 2004 a
passagem semiautomática, como um modelo para a realidade de turmas com pelo
menos 20 a 30/35 alunos, contrariamente com a realidade actual moçambicana, na
qual encontramos acima de 75 alunos numa turma. A passagem semiautomática
trouxe um mau aproveitamento para os alunos, porque eles não ficam preocupados
nos seus estudos, e muito menos nas suas capacidades cognitivas, contribuindo a
prevalência do baixo nível de qualidade de ensino, principalmente no primeiro
ciclo do ensino básico.
MINED/INDE (2008), exorta que:
A principal
inovação no sistema de avaliação consistirá na adopção de um sistema de
promoção por ciclo de aprendizagem dos alunos que consiste na transição destes,
de um ciclo de aprendizagem para o outro. Esta pressupõe a criação de condições
de aprendizagem para que todos os alunos atinjam os objectivos mínimos de um
determinado ciclo, o que lhes possibilita a progressão para estágio seguinte.
Excepcionalmente, poderá haver casos de repetência no final de cada ciclo de
aprendizagem. No entanto, isso somente acontece, nos casos em que o professor,
o Director da Escola e os Pais/Encarregados de Educação cheguem a um consenso
de que a criança não atingiu as competências mínimas e, por isso, não
beneficiará da progressão para o estágio seguinte (Pp.28-29).
Isso quer dizer
que, o governo propôs uma avaliação formativa centrada normalmente nos alunos
para facilitarem e estimularem o desenvolvimento cognitivo dos alunos que pode
vir a culminar com a progressão semiautomática mesmo que os alunos tenham
algumas dificuldades de aprendizagem.
No entanto, o PCEB (2003, cit. em Nota, 2017),
justifica-se que “toda acriança quando submetida a uma aprendizagem, ela
aprende, então não se justifica que a reprovação continue a ter um grande peso
no sistema de ensino” (p.13).
Para o MINED/INDE (1999, cit. em MINED/INDE, 2008), um
dos vários motivos que sustentam a promoção dos alunos é de:
Os
resultados mostrarem que os alunos repetentes têm tendência a ter um rendimento
baixo relativamente aos não repetentes. Isto pode significar que, em alguns
casos, a repetência não melhora significativamente a qualidade de
ensino-aprendizagem, pelo contrário, podem provocar bloqueio nos alunos, quer
porque a sua faixa etária não condiz com a dos colegas da turma. (p.29)
Para o mesmo autor, acrescenta que, os alunos não têm o
mesmo ritmo de desenvolvimento cognitivo, devido a vários factores. Deste modo,
Francisco (2016, cit. em Nota, 2017), diz que na “passagem semiautomática, não
interessa o conteúdo aprimorado ou as condições de aprendizagem, mas sim o
mínimo que o aluno conseguiu para transitar para outro nível” (p.13).
Isso endente-se que, a criança se não aprende a culpa é
do professor, porque os requisitos existem para aprendizagem da criança,
cabendo ao educador atribuir uma nota no final do ano para a progressão do
aluno para outros níveis de ensino sem se importar se a criança aprendeu algo
ou não.
Entretanto, a passagem semiautomática aumenta o índice da
baixa qualidade de ensino, visto que a criança quando matricula na escola já
tem uma outra educação (familiar), educação esta em que algum momento é
influenciado pelas condições sociais, familiares e económicas, por isso não se
pode colocar a culpa total nos professores, os pais e encarregado de educação
também são uma parte culpados, porque eles também são responsáveis na educação,
no ensino e aprendizagem da criança. A passagem semiautomática é portanto
influenciado pelos pais e encarregados de educação, os pais tem noção de que o
seu filho não se desempenha nos estudos e mesmo assim não fazem esforços para
inverter o senário, no final do ano permitem ou deixam que o professor faça
progredir o seu filho ou educando. E a criança cresce com essa mentalidade de
progressão se precisar de esforço nenhum em aprender, porque sabe dizer que no
final do ano vai progredir, vai passando de ciclo em ciclo com deficiência de atingir
os objectivos propostos para o ensino básico.
Os
meios de ensino
Todo e qual que seja o processo de ensino, exigem a
existência de recursos para a sua realização, como conceitua Piletti (2006,
p.68), “os recursos de ensino são os componentes do ambiente da aprendizagem
que dão origem à estimulação do aluno”. Libânio (2013, p.191), podemos designar
também como “meios de ensino todos os meios ou recursos materiais utilizados
pelo professor e pelos alunos para a organização e condução metódica do
processo de ensino e aprendizagem”.
No entanto, os recursos de ensino são todos aqueles meios
usados pelos educadores e ao educando com vista a fazer acontecer o PEA, de uma
forma simples e compreensiva dos conteúdos. MINED (1999, p.26), sustenta que
“Livros escolares e outros meios de ensino desempenham um papel fundamental na
aquisição de conhecimentos pelos alunos e na melhoria dos resultados
escolares”.
Para que o ensino seja de qualidade, o mesmo deve possuir
de meios necessários para o processo de ensino e aprendizagem. Se tratando da
sala de aula um “quartel-general” ela deve estar equipada de recursos
permanentes tais como: quadro preto, giz, apagador, carteiras para alunos,
secretária para o professor. Sendo o ensino um processo bilateral, o professor
e o aluno devem possuir de recursos informativos tais como: livros e cadernos,
que vão auxiliar o processo de fixação e aprimoramento do conhecimento.
Nem todas as escolas reúnem todos esses recursos, havendo
assim escassez de recursos, remetem aos professores a dificuldades da
realização do processo de ensino e aprendizagem. As Escolas usam o quadro-preto
fixo, mas num estado obsoleto e esburacado, outros que usam os quadros móveis,
também encontram-se na mesma situação, ou seja, o quadro não tem suportes,
recorrendo-se aos improvisos, dificultando ao professor a escrever os conteúdos
no mesmo, também as escolas não tem tido livros suficientes para todos alunos
das turmas numerosas e muito menos para toda a escola.
Conclusão
O ensino básico é o alicerce
do Sistema Nacional de Educação, e é constituído de 7 classes com 2 graus e 3
ciclos. O ensino básico tem como objectivo, proporcionar uma formação básica
nas áreas da comunicação, da matemática, das ciências naturais e sociais e da
educação física, estética e cultural, e tudo isso só pode se conseguir enquanto
existirem profissionais qualificados, motivados, com melhores condições de
trabalho e a existência de recursos de ensino. Não basta a expansão das escolas
pelas comunidades, elas devem ser controladas pelos inspectores escolares, para
garantir o funcionamento dos mesmos e o uso racional dos recursos e aumentar o
desempenho as competências dos professores.
Os professores constituem um
pilar para a existência da educação com qualidade, por isso, a formação dos professores
deve ser um processo contínuo, visto que aprende-se melhor na medida em que se
inteira com a realidade e com a prática. A implementação da passagem
semiautomática no ensino básico em 2004, tinha como alvo as turmas com 25 à 45
alunos, tornando eficaz na altura, mas com a realidade vivida actualmente nas
salas de aula com 60 a 80 alunos, esse processo constitui um obstáculo e
ineficiente no alcance dos objectivos mensurados no currículo, normalmente uma
turma deve ser composta no máximo de 45 alunos, com corredores entre carteiras,
facilitando o professor na circulação na sala de aula, ajudando e apoiando no
aprendizado dos seus alunos.
As escolas não devem deixar
toda responsabilidade no concerto dos materiais danificados ao cargo do
governo, visto que são muitas escolas e pode não ser rápido na resolução dos
problemas detectados, por isso, as escola devem resolver os problemas básicos
com recursos da própria escola, com é o caso de quadro-preto esburacado e sem
suporte, a escola deve organizar com fundos próprios para dar continuidade com
o processo de ensino e aprendizagem.
Por isso a qualidade da
educação não está só nas mãos do governo, mas sim em todos envolvidos no
Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA).
Referência
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(2006). Didáctica geral. São Paulo,
Brasil: Ática
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